sábado, 17 de outubro de 2015

Cuidado! O príncipe encantado estrangeiro pode ser uma ilusão

Quando fui convidada a escrever um artigo aqui no Luz para Cego, fiquei pensando em qual tema abordar. Afinal de contas, quando moramos em outro país existem tantos temas interessantes e curiosos que fica difícil escolher. Por fim, resolvi  abordar um assunto que mesmo muito debatido, principalmente em tempos de internet, é importante e nunca demais: o príncipe encantado estrangeiro.

Sim, geralmente a imagem do príncipe estrangeiro vem carregada de ilusões e expectativas, que variam obviamente conforme o objetivo da mulher que sonha. Muitas sonham com o encontro de sua alma gêmea, outras com a aventura do diferente, outras tantas em fugir de suas realidades,algumas ainda em melhorar sua situação financeira, sem esquecer aquelas que buscam pelo “status”de ser casada com um estrangeiro e por aí afora. E assim, no entusiasmo e ânsia de realizarem seus sonhos e objetivos se esquecem da cautela e mergulham de cabeça em um ilusório conto de fadas que logo pode se tornar um pesadelo.

Veja bem, não estou dizendo que isso acontece com todas as mulheres que se casam com estrangeiros, mas é a realidade de muitas. Em primeiro lugar é preciso ter em mente que aparência e nacionalidade não dizem absolutamente nada sobre o caráter de uma pessoa. O bonitão, alto, loiro de olhos  claros e passaporte europeu pode ser uma pessoas problemática e violenta, por isso ter o máximo de informação possível nunca é demais.

Você sabia, por exemplo, que os países europeus com maior índice de violência contra a mulher são os aqui do norte? De acordo com uma pesquisa feita pela European Union Agency for Fundamental Rights (http://fra.europa.eu/en/press-release/2014/violence-against-women-every-day-and-everywhere) a maior porcentagem de vítimas estão na: Dinamarca (52%), Finlândia (47%) Suécia (46%) e Holanda (45%). Dados surpreendentes para países que se dizem emancipados no que diz respeito a igualdade dos gêneros, não é mesmo? Esse quadro fica ainda mais nebuloso quando a mulher é estrangeira não fala holandês (ou o idioma do país que mora) e nem inglês, não possui amigos e/ou conhecidos a quem possa recorrer e não possui reserva de dinheiro próprio. Muitas se calam e os motivos para isso são os mais variados possíveis; medo, filhos, dependência emocional e financeira, obtencão do passaporte europeu, perda de um suposto “status” e por aí afora.

Fonte: Agência da União Europeia para os Direitos Fundamentais (FRA)
De acordo com a mesma pesquisa acima citada, a violência contra a mulher aqui na Europa do Norte tem os mais diversos contornos, passando pela violência física, psicológica e até mesmo virtual.
Ao me mudar para a Holanda me espantei com a quantidade de histórias violentas com as quais me deparei e é triste dizer, mas todas as vítimas optaram por permanecer com o agressor considerando que se voltassem ao país de origem não teriam o mesmo padrão de vida que (acham) que possuem aqui, além da vergonha de se defrontar com amigos e parentes e assumir que o suposto conto de fadas fracassou.
A problemática de brasileiras que se casam com estrangeiros e passam a sofrer abusos tem tomado uma dimensão tão grande que o Itamaraty lançou uma campanha que alerta para o cuidado de se ter informações e convivência mais profunda com o namorado estrangeiro antes de tomar a decisão de mudar de país (ver alerta na pagina do Itamaraty no Facebook https://www.facebook.com/ItamaratyGovBr/photos/a.147451148621511.22424.125578787475414/1082839871749296/?type=3&fref=nf).

Portanto eu deixo aqui algumas dicas caso voce esteja se relacionando com um “gringo” e ainda não arrumou as malas :
Falar um idioma em comum:
Se vocês não falam nenhum idioma em comum fica difícil estabelecer um relacionamento com bases mais sólidas, afinal trocar idéias, falar de sentimentos, estabelecer limites, tudo isso demanda uma linguagem além do google tradutor e da mímica.
Informação e mais informação:
Não importa se você conheceu seu namorado pessoalmente ou virtualmente, o importante é obter o máximo de informação possível e isso só se adquire com muita conversa. Veja bem, muitas moças gabam-se de não ter conhecido seus parceiros pela internet, mas será que existe tanta diferença assim caso voce o tenha conhecido durante o curto período de férias dele no Brasil por exemplo ? Ë bom lembrar que durante as férias as pessoas estão mais relaxadas, livres do stress e tensão do dia a dia e por isso mesmo mostram apenas um lado leve e relaxado da personalidade e montar uma máscara de bonzinho é mais fácil ainda quando se está em outro país e não existe ninguém que possa dar informações pessoais.
Por isso, checar o nome da pessoa no google e sua página no facebook, manter longas conversas via Skype, email, chats, telefone, etc é muito importante , sendo assim: 
Não tenha pressa:
Todo relacionamento precisa de tempo para amadurecer e muitas características de personalidade e da vida da pessoa só virão á tona com o tempo. Conheço casais que se relacionaram por muitos anos á distância até decidirem se casar. Um namoro transcontinental não é fácil mas , acredito, que ajuda a prevenir algumas surpresas desagrádaveis.
Preste atenção á detalhes e comportamentos estranhos :
Em conversas via Skype voce nota algo estranho no ambiente que a pessoa se encontra, ele mostra outros aposentos da casa á você, algum amigo e / ou parente sabe do relacionamento de vocês ? Se você deixa de ligar, enviar email etc qual é a reação dele ? Em algum momento ele teve um comportamento sem nexo ? Estar alerta é fundamental, para evitar situações como a de uma brasileira que após um namoro relampâgo á distância com um alemão descobriu após dois anos de casamento e dois filhos que o marido sofria de grave doença mental. Condição esta que foi escondida por ele e pela família até quando sobreveio uma crise e aí não foi mais possível ocultar o problema.
Não exponha sua privacidade :
Enviar fotos sensuais ou deixar-se filmar em situações íntimas é um tanto quanto arriscado, lembre-se que o relacionamento pode não ir adiante e depois por um motivo ou outro ter essas imagens divulgadas no mundo virtual pode trazer consequências desagradaveis em sua vida. Por mais que voce esteja apaixonada é importante manter os pés no chão.
Que ele venha primeiro te visitar:
Por maior que seja sua vontade encontrar a pessoa com a qual esteja se relacionando e até mesmo de conhecer o país dele, é aconselhável usar o bom senso e deixar ele ir te visitar primeiro, mesmo que o primeiro encontro de voces tenha sido pessoalmente. Isso porque você estará dentro de um ambiente que domina e terá a oportunidade de observar a reação dele quando em contato com seus amigos e parentes. Além de não se colocar numa situação de risco desnecessária. Uma ex colega de trabalho teve exatamente essa atitude com um estrangeiro que conheceu via internet, ele foi visita-la no Brasil e assim ela pôde constatar pessoalmente duas coisas : a primeira que ele mentiu quanto á idade, pois ao verificar o passaporte dele em determinado momento, pode ver que a informação nao batia e a segunda é que ele se mostrou antipático com os amigos dela e controlador com relação á ela própria. Foi o suficiente para ela ,sabiamente, terminar o relacionamento virtual que já durava um ano.
- Caso você decida visitá-lo primeiro então :
Deixe o contato e endereço dele com amigos e parentes, além do contato da Embaixada Brasileira mais próxima da região que você estará, pode parecer paranóia, mas vale prevenir. Levar dinheiro extra para emergências é imprescíndivel pois 'ficar na dependência financeira do outro te deixa vulnerável e sob controle.
Situação familiar :
Informar-se sobre o relacionamento do namorado com a família dele pode te dar várias pistas valiosas. Ele mantém contato com ela ? Ou é apenas uma relação formal ? Tem filhos de outro relacionamento e como se dá o contato ? Lembre-se que muitas vezes não é fácil se adaptar a uma família de nossa própria cultura e que dirá de uma cultura diferente. Nem todas as famílias recebem de braços abertos a futura nora estrangeira e ignorá-la ou faze-la passar por situações humilhantes não é algo raro de se ver por aqui.
Situação financeira e profissional:
Falar de dinheiro para muitas pessoas é tabu, mas é importante saber sobre a situação financeira do parceiro, ele tem trabalho ou vive de ajuda governamental? Tem dívidas? Tem economias guardadas? E você qual a sua situação financeira? Caso o relacionamento não dê certo voce tem como retornar ao Brasil com recursos próprios e recomeçar ? Ele prefere que voce trabalhe ou aceita que fique em casa?
Já tomei conhecimento de inúmeros casos em que o parceiro estrangeiro obriga a companheira a trabalhar para pagar dívidas e ás vezes até mesmo imóveis que ele adquiriu antes de conhecê-la. Outros ainda passam a exigir que a mulher comece a pagar a residência e a alimentação que ele proporcionou á ela durante o período que ela levou para aprender os rudimentos do idioma.
A minha intenção com esse texto não é de destruir os sonhos e objetivos de ninguém mas de apenas conscientizar sobre os cuidados a se tomar antes de entrar de cabeça num relacionamento com um estrangeiro. As dicas acima são apenas de prevenção e não pretendem impor nada a ninguém, afinal cada um é responsável por suas próprias escolhas.

Foto: www.folhavitoria.com.br


Não há como viver sem riscos, mas o bom senso e a objetividade não devem ser esquecidos para que se evite viver um pesadelo!
Para quem vai se mudar para a Holanda ou já vive aqui segue abaixo algumas informações importantes:
  • Casa Brasil Holanda – Associação de apoio aos brasileiros (http://www.casabrasilholanda.nl)
  • Dona Daria –  Centro para Mulheres oferecendo apoio social e psicológico (http://donadaria.nl)
  • Comensha– Fundação contra o tráfico de mulheres(http://mensenhandel.nl/)
  • Vida Legal – orientação jurídica gratuita (http://www.vidalegal.nl)
  • I-Psy – Atendimento em saúde mental e psiquiatria na língua portuguesa (https://www.i-psy.nl)



Cíntia Beatrice é paulistana, Bacharel em Turismo e Designer de Interiores, Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e mora no Norte da Holanda com o marido . Atualmente faz parte do grupo de colunistas do blog Brasileiras pelo mundo. (http://www.brasileiraspelomundo.com

2 comentários:

  1. Oi filha concordo com voce,como você eu também vivo no USA e sei de muitas histórias que o sonho Americano termina sendo um pesadelo para muitas pessoas.Cuidado meninas.
    Beijo filha te amo.

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  2. OI mãe
    Obrigada por ler e comentar. :) . Bjs

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